sexta-feira, 22 de maio de 2009

Baal

Olhei em redor, tentando perceber a razão de tamanha soberania.
O tapete foi estendido cuidadosamente, milimetricamente adaptado ao espaço que teriam de percorrer.
Os pajens aguardavam pacientemente a chegada dos convivas vindos de variados pontos da região. Eram pessoas abastadas, que tentavam transmitir a sua superior cultura, ostentando títulos mais ou menos válidos comprados em leilões duvidosos e pouco credíveis.
As poses altivas e gestos estudados em ateliers de boas maneiras, leccionados por “Senhoras” com um passado não muito longínquo de riqueza que se foi esvanecendo à medida da decadência do seu estado físico, fazem de analfabetos verdadeiros génios.
Os candelabros na sua imponência, alumiam os corredores que nos hão-de levar aos nossos lugares acompanhados de perto por mordomos de rostos rígidos mas servis na sua essência.
Finalmente sentados e assustadoramente retraídos nas suas faustosas cadeiras, vão apreciando as vestes dos vizinhos que ocuparam a fila da frente obstruindo a visão para o palco com os seus chapéus pouco vulgares.
Uma a uma as velas vão-se apagando, provocando sussurros pouco dignos de castas que se têm donas de um mundo por si só em falência intelectual.
Faz-se luz num cenário pouco usual para uma peça de semelhante gabarito. As personagens entram pomposamente tomando os seus respectivos lugares. O silêncio toma conta do espaço, enquanto os actores olham de relance os textos por uma última vez.
… e a história começa com falas que vamos absorvendo com maior ou menor dificuldade, tentando imaginar aquele Baal completamente embriagado, escrevendo e vivendo à sua maneira sem medo de infringir regras éticas e morais, mas capaz de impressionar o mais culto dos mortais pelo seu diálogo extraordinário e arrojado.

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