sábado, 25 de julho de 2009

Pecar sem Pecado




Gostei especialmente das gavetas diárias que nos serviam de calendário semanal.
Da sala das orgias onde tudo era estudado ao pormenor, desde o leque que convidava os incautos, até ao sofá redondo de onde saíam formosas damas com roupa um pouco reduzida para a época.
Os pianistas tocavam vendados para que não opinassem sobre assuntos que em nada lhes diziam respeito.
Depois destas festas, um a um iam ao confessionário, para que o Bispo os absolvesse de tamanhas obscenidades. Não que o Bispo fosse santo, mas tinha um estatuto eclesiástico que lhe permitia pecar sem pecado.
À saída metiam-se em discretas cadeirinhas, corriam as cortinas e dirigiam-se a casa, depois das suas fantasias realizadas.
A criadagem balbuciava em surdina frases de repúdio e inveja de tamanha depravação.
O Rei exausto de correrias impróprias para a sua idade, deitava-se na sua real cama, não sem antes se aliviar no seu penico esmaltado…

José Rios

1 comentário:

  1. Há dois modos de escrever. Um, é escrever com a ideia de não desagradar ninguém, outra é escrever desassombradamente o que pensa, dê onde der, haja o que houver "cadeia, forca, exilio".

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